Líder do Governo Binho Marques na Assembléia Legislativa do Acre - moisesdiniz@terra.com.br

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Desmatamento eleva clima amazônico em 4° C

Estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre a Amazônia confirmou que o desmatamento da floresta nativa realmente provoca elevação da temperatura local e redução do volume de chuvas. Baseado em medições reais e previsões, o estudo afirma que áreas que perdem cerca de 40% de sua vegetação sofrem um aquecimento de 4° C aproximadamente; além, disso, o regime de chuvas é reduzido em 24%.

Os dados refletem sobretudo o que já ocorre na porção leste da Amazônia, segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo. Trechos dos estados do Pará, Amapá, Roraima, Maranhão, Tocantis e Amazonas que vêm dando lugar a plantações de soja ou pasto sofrem as conseqüências do fenômeno: ali, entre 18% e 20% das florestas ali já cederam lugar à agropecuária, contra 15% da média amazônica total.

O estudo confirmou, assim, a chamada “savanização”, processo pelo qual o clima quente e úmido típico da Amazônia dá lugar a um clima quente e seco característico do cerrado. Nesse clima, a vegetação densa da floresta tropical não sobrevive, cedendo lugar à savana.

Os cientistas já sabiam que o desmatamento poderia levar à "savanização". Isso porque o clima na Amazônia depende das árvores, que regulam a umidade e a quantidade de luz solar que chega ao solo. Quanto menos floresta, em tese, mais quente e seca será a região.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

PREFIRO 'ESSAS' CARAPANÃS!

Aqui no Acre, o inseto muriçoca recebeu o batismo de carapanã. Nos seringais e aldeias indígenas, a sua presença é forte no início da noite e na pele dos homens. Durante o dia são os piuns!

Não posso negar! O que mais aflige o homem da floresta não é a falta de escola, de creche, rua ou esgoto. São as ferroadas ‘das’ carapanãs e a picada minúscula dos piuns!

Acabo de chegar de um lugar onde, por natureza, deveria estar infestado desses insetos. Não os encontrei na aldeia Nova Esperança, sede do povo Yawanawa. Já na beira do rio Gregório, quando parava a canoa, os piuns nos irritavam com a sua permanente agressão.

Nos dias que lá fiquei, entre cuias de caiçuma, a dança do mariri, as belas noites de lua, o canto coletivo, a narrativa das tradições, o sagrado chá, a beira de rio... ‘As’ carapanãs e os piuns não me importunaram, não me agrediram!

Mas, se o fizessem, não me importaria. O que não suporto é a ‘coleta’ de sangue que as elites realizam no corpo esquálido dos pobres! Todos os dias! Prostituição! Fome na periferia! Alcoolismo que mata os pobres! Pedofilia! Ladrões do dinheiro público e jornalistas que riem! Políticos da canalhice! Mil anos de narrativa eu passaria!

Por isso, prefiro ‘meus’ índios aos bacanas de perfume francês! Prefiro o barulho dos igarapés ao discurso brega de alguns fidalgos que preferem o asfalto ao rio. Dizem que somos românticos porque queremos a floresta em pé. Que somos idiotas porque acreditamos na simplicidade de um pajé.

Eles querem a cidade “desenvolvida”, com muitas fábricas e muitas chaminés! Mas, o desenvolvimento de que eles falam não consegue acabar com o desemprego, a prostituição, a fome, o alcoolismo! À merda esse desenvolvimento!

Lá na aldeia Nova Esperança não encontrei crianças nas ruas! Velhos abandonados! Homens alcoolizados, banguelas, desnutridos, famintos, brutalizados! E lá não chegou esse tal desenvolvimento!

Hoje vou dormir na cidade! Vou dormir com os anjos da minha inocência! Eu fico com os meus piuns e carapanãs e, quem quiser, que fique com os ladrões do dinheiro público, os traficantes de droga, os pedófilos, os frutos desse badalado “desenvolvimento”...

sexta-feira, 17 de agosto de 2007



Ficarei o final de semana na Aldeia Indígena Nova Esperança, onde acontece o VI YAWA

Clique na FOTO para ver a beleza do lugar e ouvir seu belo canto coletivo...




sábado, 4 de agosto de 2007

MENOS BERRO NA EXPOACRE

O evento continua com seus rodeios, com os bancos dando mais dinheiro para quem já o tem em demasia (vi um montão de carros e motos de luxo em pedestais e algumas caras arrogantes do poder), mas percebi uma guinada boa na direção da florestania.

Elson Martins

A primeira impressão que a feira me causou, numa breve visita domingo à noite, foi muito ruim. Tinha gente demais, uma multidão de pessoas trajando calças jeans apertadas, botas e chapelão sob uma barulhada infernal inspirada no estilo country. Ou pior: cópia vagabunda de um modismo que agride a estética da floresta. Saí de lá correndo e desabafei com alguém: “O Acre capitulou de vez”!
Pela manhã havia lido no blog do Altino, o estrago da bosta que os cavalos da cavalgada de sábado tinham deixado sobre o asfalto da Via Verde. E me senti tentado a acrescentar algum protesto ao comentário do jornalista, que logo sugeriu: “Escreve um texto para o blog”.
Ainda bem que não me faltou na ocasião a ética jornalística! Ela alertou-me de que eu poderia estar fazendo avaliação precipitada e equivocada, sobre a Feira Agropecuária do Acre inaugurada dia 28. De pronto respondi ao Altino: “Prefiro voltar lá com mais calma, depois escrevo minha opinião”. Ele compreendeu e falou: “Beleza”!
Quinta-feira à noite estive de volta à exposição. E, surpreendentemente, vi coisas que me agradaram. Comparada com a do ano passado, a Expoacre parece bem mais “sustentável” e menos “bovinizada”. Dei uma circulada pelos estandes, observei vários serviços públicos funcionando com segurança e organização.
Merece elogio o tratamento dado agora aos artesãos. Eles ocupam imenso espaço central, bem iluminado e distribuído. No ano passado, permaneceram confinados numa ruela escura da exposição, fora do circuito que atraia os visitantes.
Também chama atenção o estande da Integração, que abriu vaga para “nuestros hermanos” peruanos e bolivianos. Estes fizeram sucesso vendendo tudo o que trouxeram, nos dois primeiros dias da feira. Na quinta, consegui comprar duas latinhas de “trucha ecológica” produzida pelo Bio Trucha Andina Peru. O vendedor me disse que se trata de um peixe saboroso da região do lago Titicaca. A receita recomendada é comê-lo com macarrão, como às vezes fazemos com nossa sardinha em lata.
Animado com a novidade (ou seja: a integração andina), paguei 10 reais para um caricaturista peruano desenhar o rosto de minha filha Yasmim. Ela pousou durante 20 minutos, atraindo curiosos, e saiu satisfeita com sua figura feita a lápis crayon em cartolina.
Depois fui à Polleria Aló Peru comer um frango (polle) com legumes. De lá fiquei “bispando” as pessoas que iam e vinham passeando na feira, e me alegrei de ter agido como jornalista checando melhor a tal primeira impressão. Posso afirmar com segurança, agora, que os acreanos ainda são maioria, apesar da zueira dos cawboys.
Ouvi até uma dupla sertaneja que cantou sem botas e sem chapéu, bastante desafinada na melodia, mas que passou um recado politicamente correto sobre a vida, paixão e morte nos seringais. Ouvi também foguetório, como se alguém tivesse anunciando o nascimento de mais gente na floresta e gravei gestos de quem ainda não se acostumou com multidão.
Enfim, refleti, a Expoacre continua com seus rodeios, com os bancos dando mais dinheiro para quem já o tem em demasia (vi um montão de carros e motos de luxo em pedestais e algumas caras arrogantes do poder), mas percebi uma guinada boa na direção da florestania. Esta palavra –faço questão de dizer- não perdeu seu charme, sua força e significância, a não ser para quem apenas finge ser povo da floresta pensando, quem sabe, que é fácil nos enganar.

◙ Elson Martins é jornalista acreano.