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sábado, 4 de agosto de 2007

MENOS BERRO NA EXPOACRE

O evento continua com seus rodeios, com os bancos dando mais dinheiro para quem já o tem em demasia (vi um montão de carros e motos de luxo em pedestais e algumas caras arrogantes do poder), mas percebi uma guinada boa na direção da florestania.

Elson Martins

A primeira impressão que a feira me causou, numa breve visita domingo à noite, foi muito ruim. Tinha gente demais, uma multidão de pessoas trajando calças jeans apertadas, botas e chapelão sob uma barulhada infernal inspirada no estilo country. Ou pior: cópia vagabunda de um modismo que agride a estética da floresta. Saí de lá correndo e desabafei com alguém: “O Acre capitulou de vez”!
Pela manhã havia lido no blog do Altino, o estrago da bosta que os cavalos da cavalgada de sábado tinham deixado sobre o asfalto da Via Verde. E me senti tentado a acrescentar algum protesto ao comentário do jornalista, que logo sugeriu: “Escreve um texto para o blog”.
Ainda bem que não me faltou na ocasião a ética jornalística! Ela alertou-me de que eu poderia estar fazendo avaliação precipitada e equivocada, sobre a Feira Agropecuária do Acre inaugurada dia 28. De pronto respondi ao Altino: “Prefiro voltar lá com mais calma, depois escrevo minha opinião”. Ele compreendeu e falou: “Beleza”!
Quinta-feira à noite estive de volta à exposição. E, surpreendentemente, vi coisas que me agradaram. Comparada com a do ano passado, a Expoacre parece bem mais “sustentável” e menos “bovinizada”. Dei uma circulada pelos estandes, observei vários serviços públicos funcionando com segurança e organização.
Merece elogio o tratamento dado agora aos artesãos. Eles ocupam imenso espaço central, bem iluminado e distribuído. No ano passado, permaneceram confinados numa ruela escura da exposição, fora do circuito que atraia os visitantes.
Também chama atenção o estande da Integração, que abriu vaga para “nuestros hermanos” peruanos e bolivianos. Estes fizeram sucesso vendendo tudo o que trouxeram, nos dois primeiros dias da feira. Na quinta, consegui comprar duas latinhas de “trucha ecológica” produzida pelo Bio Trucha Andina Peru. O vendedor me disse que se trata de um peixe saboroso da região do lago Titicaca. A receita recomendada é comê-lo com macarrão, como às vezes fazemos com nossa sardinha em lata.
Animado com a novidade (ou seja: a integração andina), paguei 10 reais para um caricaturista peruano desenhar o rosto de minha filha Yasmim. Ela pousou durante 20 minutos, atraindo curiosos, e saiu satisfeita com sua figura feita a lápis crayon em cartolina.
Depois fui à Polleria Aló Peru comer um frango (polle) com legumes. De lá fiquei “bispando” as pessoas que iam e vinham passeando na feira, e me alegrei de ter agido como jornalista checando melhor a tal primeira impressão. Posso afirmar com segurança, agora, que os acreanos ainda são maioria, apesar da zueira dos cawboys.
Ouvi até uma dupla sertaneja que cantou sem botas e sem chapéu, bastante desafinada na melodia, mas que passou um recado politicamente correto sobre a vida, paixão e morte nos seringais. Ouvi também foguetório, como se alguém tivesse anunciando o nascimento de mais gente na floresta e gravei gestos de quem ainda não se acostumou com multidão.
Enfim, refleti, a Expoacre continua com seus rodeios, com os bancos dando mais dinheiro para quem já o tem em demasia (vi um montão de carros e motos de luxo em pedestais e algumas caras arrogantes do poder), mas percebi uma guinada boa na direção da florestania. Esta palavra –faço questão de dizer- não perdeu seu charme, sua força e significância, a não ser para quem apenas finge ser povo da floresta pensando, quem sabe, que é fácil nos enganar.

◙ Elson Martins é jornalista acreano.

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